sexta-feira, 13 de junho de 2008

Para meus amigos...

2005

Ei amigos. Hoje acordei com uma dor no peito e precisava escrever algo assim, sólido. Concretizar meus pensamentos. No fundo eu sempre tive medo, talvez meu único ou mais ressaltado entre todos eles: o medo do tempo e de suas conseqüências. Vocês já pararam e se olharam no espelho e viram o quanto envelheceram desde o primeiro olhar que nós trocamos? Viram o quanto o seu antigo eu não habita mais esse rosto e o quão diferente você parece? Pois é... Qual de nós nunca chegou a acreditar que a escola, 1º, 2º, 3º ano ou outro não durariam para sempre? Ou então, qual de vocês não chegou a acreditar que aquelas tardes em que passamos juntos não terminariam jamais? Eu pelo menos acreditei, acreditei e amei... Para mim, esse é o verdadeiro dom da amizade: Fazer-nos acreditar que a vida é eterna. Com nossos amigos, nosso tempo parece que fica congelado. Parece que nunca teremos família, filhos, netos e que nunca nos deitaremos um dia e não acordaremos mais. Mesmo quando há a família, em companhia de velhos amigos nos sentimos de volta para o passado, jovens outra vez. Acredito que sem amizade não vivemos. Sobrevivemos.

Hoje, com certeza, muita coisa mudou. A vida nos exige compromissos e a simplicidade de nossos dias passados se tornam cada vez mais distantes. E como é difícil acreditar que podia realmente chegar ao fim, não é mesmo? O tempo é exatamente assim, como a areia de uma ampulheta. Ele transcorre e se esvai sob o vão de nossos dedos e, quando nos damos conta, vemos que não estamos mais perto daquelas pessoas que tanto amamos, que não estamos mais naquele mesmo lugar que um dia chegou a nos parecer repetitivo e entediante... Porém, diferentemente da ampulheta, o tempo é ilimitado e não tem volta! Não há como virar a areia de lado e viver tudo de novo. Reviver a não ser que seja em lembranças. Porque a vida é um milagre que acontece a cada momento.

Cada um que passou pelo meu caminho deixará um buraco no meu peito. Buraco talvez de saudade. Oco. Talvez por não ter aproveitado ao máximo cada instante que vivi com vocês. Hoje, olhando pra trás, percebo que todas as experiências foram válidas, que cada briga e cada momento foi belo e acolhedor. Que cada palavra trouxe uma nova esperança. Que valeu a pena ter vivido, porque eu tive o que poucos no mundo conseguem ter: amizades verdadeiras.

Cada pessoa fez parte de minha vida de uma maneira inexplicável e certamente distinta. Uns de modo mais intenso, outros com passividade. Mas cada rosto ficará guardado na minha memória a cada instante que uma lágrima de saudade escorrer leve e suave sob minha face, mostrando que é realmente a paixão que move os nossos corações. Porque nesse instante terei certeza que carregarei cada sorriso comigo. Cada voz, cada sonho que sonhamos juntos. Pois ninguém passa despercebido. Cada um mudou mais do que poderia imaginar a vida um do outro. Cada semblante, vazio ou risonho, me trouxe parte de sua vida, dividiu parte de seu caminho comigo, tornando-se mais do que meu amigo: Parte de uma só alma, parte de meu modo de pensar, de agir...

No entanto, em algum instante de nossas vidas, nos daremos conta de que não há mais vida, aquela vida que um dia construímos, porque ela é renovada a cada momento. E digo mais: Perdida a cada momento. Cada momento presente é transmudado em momento passado. E cada medida tomada é uma medida irremediável. Então percebemos que cada segundo foi belo e inexplicável, quase mágico. E o pior de tudo: irreversível, irretornável, intransmutável. Então lamentamos. Lamentamos por não termos nos doado ao máximo àquela pessoa e por não termos nos esforçado diante das adversidades que surgiram em nosso caminho. Acreditem, algumas coisas que nos parecem grandes hoje podem se tornar verdadeiramente pequenas e insignificantes diante da imensidão do universo. Eis outro mistério que o tempo propõe: Tudo muda diante dele, até mesmo nossa visão sobre a vida e sobre nós mesmos.

O que me consola é que sei que, enquanto estivermos sob o mesmo sol, meu coração estará junto a vocês. E sei também que carregarão minha lembrança para sempre, além da eternidade, assim como carregarei cada olhar, de cada um que percorreu meu caminho e construiu um pedaço de mim. Hoje, me vejo como uma colcha de retalhos, assim como a todos vocês. Todos fazemos parte dessa imensa teia que nada mais é que o universo inteiro.

Uns irão embora, outros ficarão, mas aqui, nesse instante, carrego a certeza de que a amizade é aquele amor que nunca morre. É a família que temos a chance de escolher. São as pessoas com as quais podemos ser nós mesmos, com naturalidade e sem medos. São os que nos recordam quão bela é a infância. A amizade enseja confidências redentoras, tornando-nos pessoas mais humanas; problema partilhado, ombro oferecido, percalço amaciado, felicidade repartida, ventura acrescida. A amizade coloca música e poesia na banalidade do dia-a-dia. É a doce canção da vida e a poesia da eternidade.

Obrigada a todos vocês por cada momento perdido, cada momento junto, cada olhar, cada palavra, cada tarde sem nada e com muito a fazer que partilhamos. Obrigada por terem me ajudado a escrever o livro de minha vida. Cada um de vocês ficará guardado um com o outro, não importa o tempo que passe... Não importa o que aconteça, sempre teremos nossas mãos dadas e unidas. Porque juntos fomos crianças, amamos e fomos amados, e isso é o que vai importar quando estivermos velhos ou quando a solidão bater a nossa porta! A certeza de que a vida valeu, sim, a pena e de que o amor da amizade verdadeira é o fruto mais belo que podemos colher ao longo de nosso caminho!

Amo todos vocês...

Palavras de: Ana Paula Lemes de Souza, minha grande amiga.

Nenhum comentário: